A centelha do Criador, a visão e acção do Artista ou do Jurista e a expressão concreta do engenho na Arte e no Direito parte das vísceras, das memórias, das histórias, dos paradoxos e vive dos olhares, dos gestos, das reminiscências, dos contraditórios, de rectas e segmentos de recta, de linhas e cruzamentos, do finito e infinito, do preto e branco, da perspectiva e das perspectivas, das cores e das suas tonalidades ou das sintonias e dessintonias.
No Porto, num escritório de advogados, na Carlos Pinto de Abreu e Associados, Inês Tique convoca memórias do passado, das pessoas, do espaço e do tempo. Revive a artista uma época em que a família, a topografia, as curvas de nível, os traços, as linhas e as curvas do gesto se confundem com as relações e as vivências.
A beleza, a emoção estética, a simplicidade e a ancestralidade ou a profundidade de certas formas imiscuem-se na modernidade dos modos complexos do ser, nos módulos convexos do dever e numa explosão dos elementos fundamentais da terra, da água, do fogo, do ar, enfim do vazio e dos raios de luz. Tudo em fundos de madeira, tela, pano e papel.
Esta exposição permanente de Inês Tique vai certamente sobreviver ao efémero e vai igualmente potenciar a imaginação, o crescimento e a mudança. Pretende-se dar vida, e trazer futuramente novas vidas, a um espaço sóbrio, mas sempre em evolução. Uma linha contínua, um traço firme, uma curva ampla, um caminho nem sempre a direito, mas com fracturas, encontros e vias diversas.
Criatividade e regra nem sempre vivem ou convivem bem com o Jurista e a Artista. O esforço e a genialidade nem sempre convergem. Mas quando se encontram e mesclam são a prova do divino, da natureza, da humanidade, da emoção e da racionalidade. Ver, olhar, perscrutar, sentir, amar, viver e… voltar, sempre, às origens e à essência das coisas, é o desafio de fazer e vivenciar esta curva a direito.